Música. Você que acessa o blog TMN Cultura tem muitas informações sobre esse tema.
Música nas escolas. Esse é o tema da entrevista exclusiva com o educador angrense, Carlos Máximo. Conheça um pouco de sua trajetória no ramo e sua opinião ao desrespeito as leis de inclusão de músicas nas escolas.
TMN: Profissão:
Carlos Máximo, músico e professor. |
TMN: Profissão:
CM: Professor (formado em Pedagogia pela UFF e com especialização em
Educação Tecnológica pelo CEFET/RJ.
TMN: Escolas/colégios/faculdades onde trabalha:
CM: Rede Municipal de Ensino de Angra
dos Reis, Rede Estadual de Ensino do Estado do RJ e Cederj/Pedagogia-UERJ.
TMN: Matérias que leciona:
CM: Disciplinas Pedagógicas.
TMN: 1 - Tem ligação ou formação referente à música? Explique:
CM: Sou músico e compositor. Toco guitarra, violão e contrabaixo. Tenho banda e
estou em atuação há mais de 20 anos no circuito musical da cidade. Fui
conselheiro da Setorial de Música eleito pela sociedade civil e vice-presidente
do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Angra dos Reis. Minha formação
teórica vem de um processo autodidata (consequência da carência do ensino de
música nas escolas públicas) e de alguns cursos livres e workshops que já
participei.
TMN: 2 – Como você vê a inserção da música como conteúdo obrigatório na educação
básica de escolas públicas e privadas?
CM: É um passo fundamental para construção de uma educação de qualidade nas
escolas públicas e privadas do nosso país. A inteligência musical sempre foi
negligenciada em nossos currículos escolares. Não podemos mais aceitar em pleno
século XXI uma educação obtusa, monocromática e anêmica, que nega a diversidade
e a identidade dos nossos alunos. Vejo como um grande e necessário avanço o
ensino de música nas escolas, mas isso não pode ficar só no papel ou restrito a
fazeres institucionais para "inglês ver". A música na escola não pode
ser apenas pontual, limitada ao ensino de um ou dois instrumentos e teoria
musical básica. A música precisa chegar a todas as escolas, para todos os
alunos, perpassar a prática docente do professor regular e confluir com a
construção do saber, mas para isso são precisos investimentos sérios e massivos
em formação docente, infraestrutura adequada e políticas de Estado permanentes.
TMN: 3 – Além de adquirir habilidades musicais, que outros benefícios os
estudantes do país poderão receber através da música?
CM: A música ajuda no desenvolvimento da criatividade, do raciocínio lógico, da
memória e é uma linguagem universal. Já nascemos e passamos toda nossa vida com
um bumbo no peito, não podemos negar isso. A música também propicia e estimula
o trabalho coletivo, ajudando no desenvolvimento da inteligência interpessoal,
da afetividade e da sensibilidade artística. Muitas crianças com dificuldades
no aprendizado de matemática, por exemplo, conseguem obter resultados positivos
quando se utilizam da analogia da divisão de tempos musicais para as operações
matemáticas e outras tantas conseguem superar a timidez ou um trauma por meio
da expressão musical. Podemos estudar a história e a cultura de uma sociedade
através das suas canções. Alunos surdos podem ser estimulados musicalmente
através das vibrações de determinadas frequências graves. Não existem limites
para as vantagens da educação musical na escola.
TMN: 4 – A partir de 2012, a Música deveria ser conteúdo obrigatório em toda
Educação Básica, como determina a Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Por
que isso ainda não aconteceu de uma forma mais abrangente no país?
CM: O Brasil tem uma boa legislação, com muitas leis importantes e
interessantes, mas precisam e deveriam ser cumpridas. Infelizmente não são. Uma
das grandes vilãs da sociedade brasileira é a cultura da impunidade. E o mau
exemplo vem tanto de baixo quanto de cima, do cara que estaciona
"rapidinho" em local proibido aos governantes que não cumprem suas
obrigações, como no caso da lei de música nas escolas. A Lei 11.738/2008, que
garante ao professor 1/3 da carga horária para planejamento, também não é
respeitada por muitos municípios e estados. O não cumprimento de muitas leis
não acontece somente por falta de recursos financeiros, mas por essas não serem
consideradas prioridades ou interessantes politicamente para os gestores
públicos.
TMN: 5 – Conhece experiências positivas relacionadas ao ensino de música nas
escolas, seja no ensino público ou privado?
CM: Sim, mas são ações isoladas. Educadores que mesmo sem infraestrutura
adequada, sem uma boa formação, quase sempre de forma suplementar, inserem a
música em suas atividades pedagógicas. Existem ações governamentais de várias
prefeituras no Brasil, mas são pontuais e insuficientes. As melhores ações
ainda são de grupos culturais e projetos independentes esporádicos, com pouca
ou quase nenhuma divulgação e apoio.
TMN: 6 – Em se tratando de Angra dos Reis, que tipo de cenário você enxerga em
relação à cidade? Nota algum tipo de movimentação referente ao governo
municipal quanto à implantação do ensino musical? E no Rio de Janeiro? Tem
conhecimento sobre o cenário estadual?
CM: Angra dos Reis, lamentavelmente, não foge à regra da maioria dos outros
municípios. Há algumas ações pontuais, mas ainda é muito pouco perto do que
realmente precisa e deve ser feito. Não basta ter um único polo musical, que
não atende nem a demanda dos alunos da região onde está localizado. É preciso
realizar um concurso público urgente para professores de música, oferecer
formação em música para todos os professores da rede e construir ao menos um
polo musical em cada bairro, com infraestrutura adequada. No Rio de Janeiro e
em todo âmbito estadual existe um cenário muito carente em relação ao
cumprimento da lei de música nas escolas. São poucos os municípios que possuem
ações efetivas e com abrangência.
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