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quinta-feira, 13 de abril de 2017

EXCLUSIVO: Entrevista com o educador Carlos Máximo.

Música. Você que acessa o blog TMN Cultura tem muitas informações sobre esse tema.
Música nas escolas. Esse é o tema da entrevista exclusiva com o educador angrense, Carlos Máximo. Conheça um pouco de sua trajetória no ramo e sua opinião ao desrespeito as leis de inclusão de músicas nas escolas.

Carlos Máximo, músico e professor.

TMN: Profissão: 

CM: Professor (formado em Pedagogia pela UFF e com especialização em Educação Tecnológica pelo CEFET/RJ.

TMN: Escolas/colégios/faculdades onde trabalha: 

CM: Rede Municipal de Ensino de Angra dos Reis, Rede Estadual de Ensino do Estado do RJ e Cederj/Pedagogia-UERJ.


TMN: Matérias que leciona: 

CM: Disciplinas Pedagógicas.

TMN: 1 - Tem ligação ou formação referente à música? Explique:


CM: Sou músico e compositor. Toco guitarra, violão e contrabaixo. Tenho banda e estou em atuação há mais de 20 anos no circuito musical da cidade. Fui conselheiro da Setorial de Música eleito pela sociedade civil e vice-presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Angra dos Reis. Minha formação teórica vem de um processo autodidata (consequência da carência do ensino de música nas escolas públicas) e de alguns cursos livres e workshops que já participei.


TMN: 2 – Como você vê a inserção da música como conteúdo obrigatório na educação básica de escolas públicas e privadas?


CM: É um passo fundamental para construção de uma educação de qualidade nas escolas públicas e privadas do nosso país. A inteligência musical sempre foi negligenciada em nossos currículos escolares. Não podemos mais aceitar em pleno século XXI uma educação obtusa, monocromática e anêmica, que nega a diversidade e a identidade dos nossos alunos. Vejo como um grande e necessário avanço o ensino de música nas escolas, mas isso não pode ficar só no papel ou restrito a fazeres institucionais para "inglês ver". A música na escola não pode ser apenas pontual, limitada ao ensino de um ou dois instrumentos e teoria musical básica. A música precisa chegar a todas as escolas, para todos os alunos, perpassar a prática docente do professor regular e confluir com a construção do saber, mas para isso são precisos investimentos sérios e massivos em formação docente, infraestrutura adequada e políticas de Estado permanentes.


TMN: 3 – Além de adquirir habilidades musicais, que outros benefícios os estudantes do país poderão receber através da música?


CM: A música ajuda no desenvolvimento da criatividade, do raciocínio lógico, da memória e é uma linguagem universal. Já nascemos e passamos toda nossa vida com um bumbo no peito, não podemos negar isso. A música também propicia e estimula o trabalho coletivo, ajudando no desenvolvimento da inteligência interpessoal, da afetividade e da sensibilidade artística. Muitas crianças com dificuldades no aprendizado de matemática, por exemplo, conseguem obter resultados positivos quando se utilizam da analogia da divisão de tempos musicais para as operações matemáticas e outras tantas conseguem superar a timidez ou um trauma por meio da expressão musical. Podemos estudar a história e a cultura de uma sociedade através das suas canções. Alunos surdos podem ser estimulados musicalmente através das vibrações de determinadas frequências graves. Não existem limites para as vantagens da educação musical na escola.


TMN: 4 – A partir de 2012, a Música deveria ser conteúdo obrigatório em toda Educação Básica, como determina a Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Por que isso ainda não aconteceu de uma forma mais abrangente no país?


CM: O Brasil tem uma boa legislação, com muitas leis importantes e interessantes, mas precisam e deveriam ser cumpridas. Infelizmente não são. Uma das grandes vilãs da sociedade brasileira é a cultura da impunidade. E o mau exemplo vem tanto de baixo quanto de cima, do cara que estaciona "rapidinho" em local proibido aos governantes que não cumprem suas obrigações, como no caso da lei de música nas escolas. A Lei 11.738/2008, que garante ao professor 1/3 da carga horária para planejamento, também não é respeitada por muitos municípios e estados. O não cumprimento de muitas leis não acontece somente por falta de recursos financeiros, mas por essas não serem consideradas prioridades ou interessantes politicamente para os gestores públicos.


TMN: 5 – Conhece experiências positivas relacionadas ao ensino de música nas escolas, seja no ensino público ou privado?


CM: Sim, mas são ações isoladas. Educadores que mesmo sem infraestrutura adequada, sem uma boa formação, quase sempre de forma suplementar, inserem a música em suas atividades pedagógicas. Existem ações governamentais de várias prefeituras no Brasil, mas são pontuais e insuficientes. As melhores ações ainda são de grupos culturais e projetos independentes esporádicos, com pouca ou quase nenhuma divulgação e apoio.


TMN: 6 – Em se tratando de Angra dos Reis, que tipo de cenário você enxerga em relação à cidade? Nota algum tipo de movimentação referente ao governo municipal quanto à implantação do ensino musical? E no Rio de Janeiro? Tem conhecimento sobre o cenário estadual?


CM: Angra dos Reis, lamentavelmente, não foge à regra da maioria dos outros municípios. Há algumas ações pontuais, mas ainda é muito pouco perto do que realmente precisa e deve ser feito. Não basta ter um único polo musical, que não atende nem a demanda dos alunos da região onde está localizado. É preciso realizar um concurso público urgente para professores de música, oferecer formação em música para todos os professores da rede e construir ao menos um polo musical em cada bairro, com infraestrutura adequada. No Rio de Janeiro e em todo âmbito estadual existe um cenário muito carente em relação ao cumprimento da lei de música nas escolas. São poucos os municípios que possuem ações efetivas e com abrangência.

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