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sexta-feira, 29 de março de 2013

CULTURA CAIÇARA - PARTE 02

HÁBITOS, COSTUMES, COMPORTAMENTO - FILOSOFIA DE VIDA.

Caiçara é também aquele que usa a cerca de varas (no rio, na casa). Ser caiçara é também ser consciente de sua origem. “Os primeiros brasileiros surgiram da miscigenação genética e cultural do colonizador português com o indígena do litoral, ocorrida nas quatro primeiras décadas, a qual formou uma população de mamelucos que rapidamente se multiplicou (....) moldada, principalmente, pelo patrimônio milenar de adaptação à floresta tropical dos Tupi-Guarani (....) gerando, posteriormente, um contingente mestiço de índios, brancos e negros, que viria a constituir o povo brasileiro” (Ribeiro, 1987). É dessa amálgama de raças que surge o caiçara, típico representante do litoral paulista, e cada pescador nativo se considera,orgulhosamente, seu digno representante. Verdade seja dita que o termo “caiçara” tem, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, um significado banal injustamente pejorativo: o caipira, matuto e vagabundo homem da praia. Significado semelhante encontramos no município de Itanhaém para o termo “tabacudo” - homem simples, abobalhado, sem instrução - como são chamados os caiçaras dessa região. Este caráter pejorativo e também a humildade característica do praiano fazem com que as populações caiçaras urbanas sofram certo preconceito de classe social quanto à sua origem. O caiçara que Dona Iolanda Serra retrata nas suas histórias é o mesmo homem que Seu Zé Carvalho (natural de Rio Verde, no maciço da Juréia-Itatins) nos apresentou nas suas histórias de pescarias e cercos. É uma gente simples, acostumada ao trabalho árduo de sol a sol, que se rege pelas fases da lua para determinar o melhor momento para plantar, pescar, caçar. Este povo praiano, em perfeita harmonia com o meio que o cerca, usa o mar como mercearia e geladeira, coleta na mata todos os seus medicamentos,cultiva a terra da planície litorânea fazendo-a produzir a contento apesar da “muita areia e pouca fertilidade” dos solos da restinga.
 
 

Traço cultural muito interessante do caiçara é a sua habilidade no manejo da terra. Tal e qual seus ancestrais indígenas, este povo observa preceitos antigos que garantem a sustentabilidade do solo produtivo. Na cultura caiçara verificamos sempre o respeito pela necessidade de pousio do solo – tempo de descanso prolongado para recuperação da fertilidade -, o uso de todos os artifícios naturais para melhor preservar os fatores produtivos; o plantio direto sobre o restolho, na coivara de tocos que mantêm a umidade natural; a escarificação leve que não agride a cama da semente. Estas medidas também são características em outras comunidades tradicionais e - não se pode deixar de dizer pertencem à rotina de camponeses, pequenos agricultores e pescadores artesanais, enfim daqueles que fazem a sua vida do dia-a-dia na força do braço, no trabalho  artesanal. O povo caiçara é assim: simples no viver, direto no sentir e no falar. Entre os mais idosos ainda é forte a característica da “falta de ambição”: este desprendimento de riquezas e de bens materiais, esta capacidade de viver bem em condições extremas, o não prever ou se preocupar com o amanhã. Não que este povo sofrido tivesse outras oportunidades melhores e as deixasse de lado por puro desprendimento, não. Trata-se sim, de uma arte muito do caiçara, do praiano, de viver bem com o tanto que a natureza lhe dá.

Uma análise mais aprofundada nos dirá que, com certeza, uma cultura assim estruturada não tem competitividade suficiente para sobreviver às imensas pressões da sociedade moderna. É neste embate que a cultura caiçara vai se perdendo, cortando o contato íntimo com suas raízes aunticas os ensinamentos ingenas que possibilitaram a sobrevivência dos primeiros portugueses nas matas litorâneas; as adaptações portuguesas da tecnologia necessária à manufatura de alimentos, canoas e redes; o uso das ervas medicinais na cura de todos os males. As características mais clássicas de um povoado caiçara - aqueles que existiam neste litoral até as décadas de 1940-50 e ainda vivem na memória e nas saudades dos mais idosos - eram as de um grupamento desordenado de casas, isoladas umas das outras, escondidas entre a folhagem e protegidas do vento pela vegetação da orla da praia. Na região estudada, até a década de 1960 os bairros mais distantes do centro da vila ainda mantinham estas características.

FONTE: SCRIBD.


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